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RELATOS DE UMA MÃE COM COVID

  • Foto do escritor: MARCIA AFONSO
    MARCIA AFONSO
  • 23 de mai. de 2021
  • 5 min de leitura

Quatorze dias sem poder abraçar e beijar meus amores mesmo estando próximos. Foi uma emoção e alegria poder chegar pertinho deles e novamente trocar aquele aconchego que só fazíamos com os olhos.


De todos os medos e tristezas, de todos sentimentos mais diferentes que pude experimentar durante o contágio e isolamento do covid, não poder estar perto dos meus filhos foi o mais sentido. Muitas coisas passam pela nossa cabeça quando estamos doentes, e nesse contexto de pandemia, cada um reage a este vírus de uma forma, o emocional fica muito comprometido, somente a esperança, a fé, e o pensamento positivo podem trazer certa normalidade aos dias, que passam lentos e longos.


Foi uma experiência com muito significado e quero aqui dividir as minhas percepções e se puder auxiliar alguém que esteja na mesma situação, ficarei muito feliz.


Começou com uma tosse insistente e uma certa indisposição, uma lentidão – e quem me conhece sabe que eu sou ligada no 330W – mas meu corpo e minha mente não estavam bem, sentia que aquela pessoa ali não era Eu, algo não estava bem. Na segunda meu esposo teve um “gripão” como dizemos e ficou dois dias assim, nosso médico então solicitou que fizéssemos o exame – e lá estava ele – o COVID-19 – em que pese todos os cuidados insistiu em chegar por aqui. E agora? E os guris? O que fazer? Eram já 21:30 da noite de uma quinta feira. Então respirei fundo e tentei colocar o pensamento em ordem, contatei nosso medico que prontamente já nos prescreveu as medicações e orientações. Logo em seguida mandei um whatsapp para minha funcionária da casa, para que não viesse e que fosse fazer o exame. Já de máscara chamei os guris pra sala um em cada canto e compartilhamos a notícia – pai e mãe estão com covid.


O Cícero já lascou aquela pergunta – Mãe vocês irão morrer? – O que dizer? Não, não iremos? Mas e se? Então novamente tentar rapidamente organizar o pensamento e tentar de uma forma realista, mas amorosa passar uma tranquilidade que nem mesmo eu tinha – Arthur já mais velho perguntou como iriamos fazer e aí todas as leituras anteriores sobre o assunto passaram de relance na minha mente.

Bem, vamos com calma, disse eu, cada um fica numa cadeira distante e vocês dois ficam no sofá juntos, eu e pai usaremos máscara todo tempo e nos manteremos o mais distante possível, eu farei a comida de luva e vamos separar todos os utensílios que usarmos. Utilizaremos apenas nosso banheiro para não compartilharmos toalhas. Dei tanto valor a minha casa que nos acolheu. Aí o Cícero novamente com sua perspicácia – Mãe mas eu não vou poder te abraçar? – Esse foi o pior momento – não contive as lágrimas, novamente respirei fundo e não filhote, mas daremos um jeito e estaremos sempre juntos, mesmo que distantes.

Avisar a minha mãe e irmãs também não foi fácil, gente eu e Core (apelido do meu esposo) estamos com covid, os olhos emaranhados, estomago embrulhado mas optei por manter aquela Márcia palhaça que está sempre brincando, e não demonstrei mais que uma alegria imensa por estar falando com elas.


A primeira noite foi tensa, um turbilhão de pensamentos, de medos, de insegurança e da falta de proximidade dos meus filhos, mas acordamos e isso já foi uma benção.

A dor no corpo e a prostração foram os sintomas mais expressivos que tive, todavia precisava dar conta do mínimo viável como chamam, ao menos a alimentação para nós precisava manter, aí a equipe Velloso entrou em ação. Sempre gostei de cozinhar, e quando não tinha ajuda fazia comidinhas gostosas e rápidas e foi o que fiz, um omeletão, arroz novinho, salada num dia, uma macarronada com salada no outro, e por aí vai... A louça ficava com o Arthur e Cícero, e o Core ainda estava mais abatido, contudo logo já entrou no ritmo lento da equipe heheh. Não assistimos aulas online alguns dias, fazíamos o mínimo mesmo.


Costumo dizer que eu e meus filhos somos grudadinhos, e somos mesmo, e digo aqui meus três filhotes, o Bruno meu enteado – sou a Cruela dele – esteve presente conosco, mandando mensagens diariamente, vibrações, trazendo pãozinho e ajudando nas fichas do colégio do Cícero. Não consigo ficar longe dessas figurinhas, então criamos o abraço de pé – consistia em eu de luva, pegar o pé de cada um e fazer um carinho bem agarradinho eles de meia, depois um jatinho de álcool. Era puro amor e nos manteve conectados como sempre.


Uma semana após, tivemos a notícia da morte de um amigo muito querido, nosso compadre, uma pessoa alegre, produtiva e muito carinhosa. Não poder estar junto a sua família, amparar a minha amiga tão querida e filhas, foi também um momento muito difícil. Em que pese nossa fé e crença na vida futura e na trajetória de cada indivíduo, estar doente e receber essa triste notícia, abalou muito o meu emocional. Já havia perdido dois tios queridos com esse vírus, agora nosso amigo, e nós tb infectados novamente um turbilhão de pensamentos e de atitudes que eu precisava tomar para seguir em frente, manter a mente positiva, não foi fácil.


Uma experiência e tanto. Não tivemos maiores complicações, saturação se manteve estável, não limpei a casa, não trabalhei, apenas passei por esses dias tentando ser positiva e aproveitar o máximo possível da companhia. Nós quatro em casa isolados de tudo, mas agradecendo muito por termos tanto amparo, tantos amigos, tantas vibrações amorosas.

A prece foi minha companheira diária e inseparável. Respirações, relaxamentos, pensamento e vibrações positivas, nos sustentaram a todos. Me senti cuidada por tantos. E isso nos trouxe a liberação após os 14 dias.


O que aprendi? Que a alegria e a gratidão são elementos fundamentais para estarmos bem, independentemente da nossa condição. Que ter amigos verdadeiros é realmente um tesouro. Que manter a nossa fé seja ela no que ou em quem for, nos deixa fortes e com coragem para enfrentar o que vier. Que posso sempre auxiliar o outro, mesmo quando eu não estou muito bem. Que o carinho e o amor da família mesmo que distantes mantém o teu coração aquecido. Que temos que tomar todos os cuidados necessários. Que devemos confiar na pesquisa e na ciência. Que devemos estar informados concordando ou não com as orientações. Que política, religião e futebol não vale a pena discutir e perder de vista quem você estima.


Que a vida é um sopro, e que sou muito abençoada por em certo momento da minha trajetória ter descoberto o quão importante é valorizar e apreciar cada momento, cada segundo do teu dia. Que devemos viver a vida e não apenas existir. Abrir a janela e ver o dia que iniciava com um sentimento de Gratidão por estar ali e ter a oportunidade de tantas experiências.

Quem me conhece sabe o quanto sou alegre, bem humorada, que rio por qualquer bobagem e que se não riem comigo, aí mesmo que me desmancho gargalhando. Essa sou eu – esse vírus não conseguiu retirar a minha alegria de viver, a minha esperança em dias melhores – ele me derrubou de certa forma – mas não foi suficiente para retirar a vontade de viver, de estar junto, de seguir em frente e de buscar e manter meus propósitos. Ele retirou do meu convívio pessoas que amo, mas não foi suficiente para adormecer meu coração, pois sei que estão vivas e trilhando uma nova jornada, e transformarei a saudade em lembranças amorosas.


Serei eternamente grata a todos que comigo compartilham essa jornada. A Deus minha força e refúgio. A tantos ensinamentos que tive, ao fortalecimento da minha fé e da minha família. Aos meus amigos tão próximos e aos distantes.


Deixo aqui a todos que ainda não passaram por essa experiência e àqueles que já, sejam positivos sempre, aprendam a valorizar os pequenos momentos e acontecimentos do dia. Fale que ama, abrace, beije, aconchegue. Faça planos e tenha projetos. Não desista! Por mais que a vida te traga limões... aprenda logo a fazer a tal limonada, independentemente do momento.

Abraços carinhosos!






 
 
 

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Sou Márcia Afonso, uma escorpiana que cinquentou e resolveu se aventurar nas mídias digitais, a fim de apresentar conteúdos de uma vida com significado. Compartilhar conhecimento e experiências é o objetivo desse blog.

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